Ainda hoje vejo o discurso de vários docentes que dizem não
acreditar que essa atual geração seja de alguma forma diferente, por exemplo,
que eles tenham esta facilidade em múltiplas tarefas.
Incrivelmente na minha concepção, salta aos olhos
cotidianamente todo o diferencial destas crianças para as da minha época e as
anteriores!
Devemos entender que por muito tempo, os jovens e os adultos
eram analisados baseando-se simplesmente em sua denominação como acabamos de fazer
(jovens e adultos). Percebeu-se que seria mais sensato medir a partir de grupos
de mesma idade e que envelheciam juntas, as gerações.
Não podemos, por exemplo, julgar nossos adolescentes como os
adolescentes de 15 anos atrás, ou os da revolução industrial. É necessário
verificar que a evolução cognitiva acontece juntamente com a evolução da
sociedade. A chamada Geração Z, que
nasceu a partir de 1995 de acordo com alguns teóricos e a partir de 2000 de
acordo com outros, é um grande contingente de jovens que desde que nasceram
tiveram contato com a tecnologia. Desde antes de andarem já se habituaram à
tecnologia que permeia o mundo em que vivem. São nativos digitais, pois assim
como aprendem o seu idioma de origem, aprendem a tocar em um touchscreem de um
tablet ou celular, sabem usar o Google e aprenderam e recorrem à internet para
inúmeras atividades e aprendizados. Já nasceram em um mundo com Windows 95 e
internet em uso.
Para o professor Marc Prensky[1]
Mestre em Tecnologia e Educação pela Universidade de Yale, os jovens vivem
desde a infância em um mundo notadamente cercado de tecnologia e convivem com
uma realidade criada pelas mídias digitais. Estas crianças ficam trancadas por
horas em um quarto sozinhas, porém para elas, a internet as mantém conectadas
às outras pessoas e por isso esse é seu ambiente de convívio. Elas não se
sentem sozinhas ali, pois milhões de internautas estão ali interagindo com elas;
sua socialização é virtual, sua noção de público e privado é totalmente
diferente.
Todo professor sabe que os alunos trocam mensagens mesmo se
estiverem na mesma sala, ou no mesmo ônibus de excursão, ou no mesmo
auditório... Isso denota claramente que existem mais de um ambiente de
convivência.
Vygotsky nos mostra que as capacidades psicológicas
superiores são construídas através de seu convívio social dentro de um recorte
temporal. O convívio social e o mundo em que esse adolescente vive moldam,
portanto sua personalidade, seus valores, sua maneira de aprender, conviver e
se relacionar com o mundo que o cerca. Como desde muito pequenos eles tem estímulos
variados, e de várias fontes, suas capacidades cognitivas se moldam àquela
situação, portanto este jovem tem estruturas cerebrais adaptadas para serem mais
rápidas, capazes de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo e mais autorais do
que as das gerações anteriores. Um dos nomes dados a essa geração é Geração Z
ou Homo Zappiens, o termo inglês “zap” significa mudar constantemente de canal.
Por outro lado, por conta da grande quantidade de informação
a que estão expostos, estes jovens acabam sofrendo perda significativa na
capacidade de se concentrar. Eles têm acesso a muitas informações o tempo todo,
mas como nada é profundo, e sim rápido, sua mente se habituou a trabalhar
rapidamente, porém sem profundidade. Li vários estudos que comentam que a
capacidade de concentração dos jovens de hoje fica realmente prejudicada. Porém
a capacidade de aprendizado é maior, pois quando eles conseguem a informação de
que precisam, logo pulam para outra tarefa. A vantagem é que no pouco tempo em
que se mantém o foco da atenção, o conteúdo é absorvido totalmente.
Em nenhuma outra época da História humana ouve salto tão
grande quanto este efetuado por esta geração. Com um celular e internet os
jovens tem realmente acesso ao mundo.
Nosso maior desafio é tornar este mundo tão amplo em
saberes, compartilhamento de informação, socialização e diversão em um mundo
que também contemple as reflexões éticas necessárias para que tenhamos
qualidade social, tais como: Equidade, solidariedade, respeito à diversidade e
justiça social.
Só temos a ganhar enquanto educadores se conseguirmos aliar
a dinâmica veloz de nossos adolescentes com a sensibilização, criticidade,
questionamentos sobre o mundo moderno e suas contradições, debates sobre
preconceito. Se falta profundidade no discurso, cabe à escola e ao professor
criar e ampliar a “Cultura escolar”, que privilegia o conhecimento aprofundado,
e que produz atitudes e práticas de mudança.
Depois de aliarmos
tudo isso, deixemos que eles escrevam um post e compartilhem todas as suas
impressões, opiniões e críticas no facebook.
[1] QUEM É
Nova-iorquino – formado em francês e matemática, com especializações pela escola de Artes e Ciências de Yale e pela Harvard Business School – é especialista em tecnologia e educação
O QUE FEZ
Fundou a Game2train, uma instituição de ensino a distância que desenvolve games usados para ensinar
O QUE PUBLICOU
Ensino com jogos digitais (2001), Mãe, não me amole, estou aprendendo (2005) e Ensinando nativos digitais(2010)
Nova-iorquino – formado em francês e matemática, com especializações pela escola de Artes e Ciências de Yale e pela Harvard Business School – é especialista em tecnologia e educação
O QUE FEZ
Fundou a Game2train, uma instituição de ensino a distância que desenvolve games usados para ensinar
O QUE PUBLICOU
Ensino com jogos digitais (2001), Mãe, não me amole, estou aprendendo (2005) e Ensinando nativos digitais(2010)
Parabéns pelo blog, ótimo post.
ResponderExcluirA quantidade de informações disponíveis ao jovens por meio digital é algo impressionante! O resultado que essa disponibilidade dará é algo ainda imprevisível, pois estamos no meio de uma grande revolução, no entanto já se é possível ver que os jovens vem se "especializado" naquilo que lhes interessa e tomando posição. Vejo que há uma certa dificuldade em se ir a fundo em determinados assuntos onde o jovem deveria sair do geral e buscar o cerne, mas creio que a medida que sua formação como pessoa se inteira o jovem passa focar naquilo com o que se identifica mais. Para os pais também é um mundo novo onde terão que servir de plataforma e não de cerca para a expansão, pois podem correr o risco de se tornarem obsoletos não por que os filhos não precisem mais e sim por não conseguirem apontar novos horizontes limitados ao ambiente de uma geração anterior.
Há muito para acontecer!
Márcio Santos